Melhora na qualidade de vida, na auto-estima, a realização de um sonho antes impossível. Tudo isso aconteceu a alguns moradores da Ilha de Torotoma e dos Marinheiros, no município de Rio Grande, que participaram do projeto Educação para Pescadores, concluindo assim o Ensino Fundamental e Médio. Os participantes foram pescadores artesanais e agricultores que desejavam estudar, mas devido à necessidade de trabalhar desde muito cedo não puderam concretizar o seu objetivo.
Iniciado em 2008 na Ilha de Torotama, através de parceria entre a 18ª Coordenadoria Regional de Educação, através do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) com apoio do professor Érico Brasil, a FURG, a Prefeitura de Rio Grande, a Capitania dos Portos do RS e a Colônia de Pescadores Z-1, o projeto já formou mais de 200 pescadores (157 concluintes no Ensino Fundamental e 64 no Ensino Médio). “É uma construção da cidadania, possibilitando a confecção de documentos que antes não eram permitidos e participação em cursos da Marinha. Abriu muitas portas para eles”, destaca a coordenadora da 18ª CRE, Neila Silva.
As aulas, ministradas pelos monitores voluntários, aconteceram duas vezes por semana, antecipadas por momentos de formação dos educadores, que discutiram metodologias voltadas para a educação popular. Além das aulas tradicionais na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), paralelamente foram feitas atividades com a equipe de saúde do posto médico das localidades, tendo como objetivo a prevenção e instrução sobre diversos assuntos, somado a trabalhos de motivação através de mensagens, vídeos e dinâmicas. A educação enfatizada é de emancipação, na qual os educandos são os sujeitos do processo educativo, valorizando seus conhecimentos prévios e priorizando a relação de diálogo entre educando/educador.
Incentivada por uma vizinha, Rosangela Maria da Costa Dias, se inscreveu faltando pouco para o início das aulas. Ela conclui o ensino fundamental no dia 4 de dezembro de 2011, junto a outros 54 estudantes. “Foi muito bom, eu não pensava novamente em estudar, eu e meu marido paramos de estudar na 3ª série, foi uma mudança de vida.” A convivência com os professores também foi muito importante. “Muitas vezes não temos o saber da escrita, mas temos o saber da vida, ocorrendo então uma troca com os professores“, analisa Rosangela que planeja para 2012 o ingresso no ensino médio pelo mesmo projeto.
Na casa de Roselaine Gonçalves Gomes a participação no projeto incentivou também outros membros da família. A filha de 29 anos iniciou o curso técnico em Portos e se inscreveu no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por iniciativa própria, antes era sempre cobrada pela mãe. “Parei de estudar há 33 anos e nunca sonhei que fosse me formar. Em 2012 vou fazer o ensino médio”, afirma a empolgada Roselaine.
Em 2012 o projeto terá inovações. Serão também envolvidos trabalhadores portuários, da orla e também será ofertado ensino médio aos pescadores da seccional da barra, do outro lado do canal.
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