sexta-feira, 26 de junho de 2015

Após crise, jovem cria sistema que reaproveita água de máquina de lavar

Iago Santos, de 18 anos, desenvolveu projeto em Jacobina, norte do estado.
Método usa água de aparelho doméstico na descarga de vaso sanitário.

Henrique MendesDo G1 BA

A experiência recente de convívio com a crise hídrica levou um jovem morador do município de Jacobina, no norte da Bahia, a desenvolver um sistema de reaproveitamento de água da máquina de lavar para a descarga do vaso sanitário. O inventor do projeto é Iago Santos, 18 anos, aluno do quarto ano do ensino médio cursado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), numa formação integrada com o curso técnico em eletromecânica

"Tivemos uma escassez de água em 2012 e comecei a estudar para ter embasamento teórico sobre o assunto, para saber como poderia ajudar. A ideia veio de casa. Minha mãe já armazenava água [da máquina de lavar] na área de serviço, só que o uso no banheiro era manual", disse sobre a ideia inicial de desenvolvimento do sistema de reaproveitamento.

Segundo Iago Santos, após pesquisas na internet e livros de eletromecânica, a primeira ideia do que seria o sistema foi implementado na própria casa, em junho de 2014. Por meio do uso de tubulações, transformador de energia e reservatório, o estudante elenca que conseguiu criar um projeto exequível e de baixo custo.

Três meses após a criação, com a percepção de que o projeto era realidade, Iago detalha que apresentou o sistema para dois professores, que passaram a auxiliá-lo em alguns aperfeiçoamentos. "Depois de seis meses de testes, eu me senti à vontade para apresentar às pessoas agora [fevereiro]. Já comecei a ser procurado por alguns interessados em instalar o sistema nas próprias casas. A primeira foi a minha vizinha", destacou.

Iago detalha que a ideia foi criar um sistema automatizado para conduzir a água do reservatório da máquina de lavar até o vaso sanitário com baixo custo, fácil instalação e pequeno consumo de energia.

Em casa, onde o sistema já opera há quase um ano, o estudante conta que, a cada duas semanas, tem usado apenas 100 litros de água da rede de fornecimento do município na descarga. Antes, eram 600 litros por dia. "A economia vai depender de quantas pessoas têm na casa e quantas vezes elas usam a máquina de lavar, além do tamanho da máquina", diz.

Economia
Com o sistema criado por Iago, a água usada na lavagem de roupas é direcionada para um reservatório e, por meio de um bombeamento com baixo consumo de energia, é conduzida para a descarga do vaso sanitário. A boia da descarga é usada como chave para a entrada da água proveniente da máquina de lavar. Quando a boia está alta, a chave está aberta.

O sistema é barato, custa em média R$ 200, e também consome pouca energia. É outro ponto bom de destacar, já que estamos num período em que se fala muito em crise no fornecimento de energia", explica. Ele conta que a fonte de bombeamento é de 12 volts.

Prestes a se formar no curso técnico em eletromecânica - no final de 2015 -, o estudante diz que o projeto será utilizado como trabalho de conclusão de curso, com a ideia de possibilitar a instalação gratuita nas demais residência do município. Sobre oportunidades de patrocínio, ele diz que esse não é o foco.

"Usei meu estudo para resolver um probelma social e pensando nas gerações futuras. Eu fiz o sistema para que seja voluntário. A ideia é contribuir para que as pessoas façam o melhor uso da água. Se, futuramente, tiver oportunidade de usar meu projeto como meio de sobrevivência e puder trabalhar com isso, claro que eu ficaria feliz. Entretanto, a ideia de ser patrocinado não é meu foco", comenta.

Fonte: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2015/02/apos-crise-jovem-cria-sistema-que-reaproveita-agua-de-maquina-de-lavar.html

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Escola em Paraty (RJ) aboliu provas, disciplinas e séries há um ano

Por Daniel Froes | 17 de junho de 2015 


A escola é pequena, tem apenas 50 alunos. Mas, a sua capacidade de inovar na maneira de ensinar é grandiosa. Há um ano, a Escola Comunitária Cirandas, em Paraty (RJ), trabalha com um método de ensino sem matérias, provas ou séries. Nem sinal de recreio existe. 

As crianças chegam ao colégio às 8h e participam de uma roda de cantos, poesias e tai chi chuan “para despertar o corpo”, diz a diretora da escola, Mariana Benchimol, em entrevista para a Folha de S. Paulo. Elas só voltam para suas casas às 15h20. 

A escola possui uma sala de iniciação, onde os alunos são alfabetizados, e outra de projetos, reservada para as atividades semanais. Na hora da refeição, eles servem e lavam os próprios pratos, se revezando na organização do refeitório. Os estudantes também participam de projetos anuais, como acontece nas escolas da Finlândia, reconhecida mundialmente pela excelência na educação. 

No ano passado, a direção da escola e as crianças planejaram uma viagem para o Havaí. “Primeiro, eles queriam surfar no Havaí, mas viram que não seria viável e organizaram uma viagem para uma praia perto”, relembra a diretora. Eles calcularam custos, arrecadaram fundos e escreveram o roteiro da viagem.

Mariana acredita que o ensino tradicional desconsidera as diferenças entre os estudantes e que seguir uma apostila pré-elaborada fere a autonomia da criança. “Aqui, o professor tem um planejamento que não é uma grade. Ele ouve as crianças e traz o conteúdo curricular de forma transversal”, reflete. 

Os alunos são divididos por afinidade de conhecimentos, maturidade, idade ou por projetos. E todos eles pertencem a um único ciclo, que corresponde ao 1º e ao 5º ano do ensino fundamental.

 E, mesmo que não haja provas, as crianças são avaliadas. A escola conta com uma base interna para acompanhar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 

O valor da mensalidade de que quem paga para estudar na escola é de R$ 1.000,00 reais. Mas, metade das vagas é reservada para alunos bolsistas. “Temos filhos de banqueiros convivendo com filhos de trabalhadores domésticos. Alguns viraram melhores amigos e frequentam a casa um do outro”, diz orgulhosa a diretora.

terça-feira, 24 de março de 2015

FINLÂNDIA SERÁ O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO A ABOLIR A DIVISÃO DO CONTEÚDO ESCOLAR EM MATÉRIAS.

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A campainha toca, mas, em vez da aula de História, começa a aula de “Primeira Guerra Mundial”, planejada em conjunto pelos professores especialistas em História, Geografia, Línguas Estrangeiras e (por que não?) pelo professor de Física que achou que seria uma boa oportunidade para trabalhar os conceitos de Balística.
À tarde, outro sinal, mas os alunos não vão ter aula de Biologia. Hoje a aula é sobre “Ecossistema Polar Ártico”, ministrada pelos professores especializados em Biologia, Química, Geografia e o de Matemática, que percebeu que os dados sobre o derretimento das geleiras seriam úteis para o estudo de Estatística.

Em pouco tempo, cenários como esse, que já são comuns nas principais escolas da capital Helsinki, poderão ser encontrados em toda a rede de ensino do município e nas cidades do interior. O objetivo é claro:
A Finlândia quer ser o primeiro país do mundo a abolir completamente a tradicional divisão do conteúdo escolar em “Matérias” e adotar em todas as suas escolas o ensino por “Tópicos” multidisciplinares (ou “Fenômenos”, conforme a terminologia adotada pelos educadores finlandeses).
Há anos, a educação finlandesa vem sendo considerada a melhor do mundo. Com “segredos” como valorização dos professores, atenção especial aos alunos com mais dificuldades, valorização das artes e de diferentes formas de aprendizagem e uma radical redução no número de provas e testes, o país tem consistentemente dividido as mais altas posições nos rankings do PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa para Avaliação Internacional de Estudantes) com Cingapura, mas com as vantagens de oferecer uma educação universalmente gratuita e livre dos tremendos níveis de estresse aos quais os estudantes asiáticos são submetidos.

Apesar dos excelentes resultados (ou talvez por causa deles), a Finlândia pretende continuar repensando e aprimorando seu sistema educacional. “Não é apenas Helsinki, mas toda a Finlândia que irá abraçar a mudança”, afirma Marjo Kyllonen, gerente educacional de Helsinki. “Nós realmente precisamos repensar a educação e reprojetar nosso sistema, para que ele prepare nossas crianças para o futuro com as competências que são necessárias para o hoje e o amanhã. Nós ainda temos escolas ensinando à moda antiga, que foi proveitosa no início dos anos 1900 – mas as necessidades não são mais as mesmas e nós precisamos de algo adequado ao Século 21.”

Naturalmente, a ideia de substituir “Matérias” por “Fenômenos” como forma de dividir o conteúdo escolar e apresentá-lo aos alunos sofreu resistência inicial, principalmente dos professores e diretores que passaram suas vidas se especializando e se preparando para ensinar matérias. Mas com suporte do governo – inclusive incentivos financeiros através de bonificações para os professores que aderissem ao método – os professores foram gradualmente se envolvendo e hoje aproximadamente 70% dos professores das escolas de ensino médio da capital já estão treinados e adotando essa nova abordagem.

Atualmente, as escolas finlandesas já são obrigadas a oferecer ao menos um período de ensino multidisciplinar baseado em Fenômenos por ano. Na capital Helsinki, a reforma está sendo conduzida de forma mais acelerada, com as escolas sendo encorajadas a oferecer dois períodos. A previsão de Marjo Kyllonen é de que em 2020 a transição estará completa em todas as escolas do país.

http://rescola.com.br/finlandia-sera-o-primeiro-pais-do-mundo-a-abolir-a-divisao-do-conteudo-escolar-em-materias/

quinta-feira, 12 de março de 2015

Ódio ao PT?


Na história do Brasil, sempre que o salário mínimo e a renda média subiram, houve algum tipo de intento golpista. O problema da elite não é com a corrupção.
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/odio-ao-PT-/4/33042
Róber Iturriet Avila*
Três intelectuais de relevo trataram recentemente acerca do ódio ao PT: Leonardo Boff, Luis Fernando Veríssimo e Luiz Carlos Bresser Pereira. Suas palavras têm a lucidez de quem enxerga além das aparências e do senso comum. Embora o momento corrente não seja corriqueiro, um olhar histórico traz ensinamentos.
 

Na Revolução Francesa, por exemplo, na aparência havia uma ruptura lastreada em novos valores: Liberté, Egalité, Fraternité. O pano de fundo real era, entretanto, a emergência de um novo grupo. Em meio a um período econômico conturbado, a burguesia degolou o poder político e o status social da aristocracia.

No Brasil, a constatação de que a escravidão foi excessivamente longa já sinalizava que o arranjo da sociedade é deveras estamental. Políticas progressistas sempre encontraram fortes barreiras conservadoras.

Os conflitos de 1954, por exemplo, foram intensos. Na superfície, o governo estava cercado diante dos “escândalos” de corrupção. A constante oposição na imprensa desgastava Vargas. Em 1954, o então presidente aumentou o salário mínimo em 100%. Quem não é ingênuo sabe que Vargas estava contrariando interesses empresariais, tanto com a concessão de direitos trabalhistas e civis, quanto com ampliações salariais. O suicídio foi a saída honrosa ao cerco montado.

João Goulart foi presidente em um período de conflitos. Seu governo concedia elevados aumentos salariais, prometia reforma urbana, voto de analfabetos, elegibilidade de todos brasileiros, reforma agrária, concessão de terras a trabalhadores rurais, justiça social, emancipação dos brasileiros. Caiu! O receio do “golpe comunista” foi o discurso raso que justificava.

Vargas e Goulart saíram do poder ao tempo em que concediam direitos sociais, sobretudo aos menos favorecidos. Não é novidade que durante os governos do PT, os trabalhadores ampliaram sua renda, o salário mínimo cresceu de maneira contínua e houve uma série de programas sociais. Não surpreende que, mais uma vez, setores da sociedade brasileira se ergam contra tais políticas, ainda que, escamoteadamente, o bordão seja “contra a corrupção”.

Evidentemente, existem elementos factuais dos governos Lula e Dilma que causaram desconforto e indignação a todos os cidadãos. Contudo, é preciso muita inocência para imaginar que as manifestações contra o governo são incentivadas pelo descontentamento com a corrupção, pela elevação do preço do combustível ou da energia. Quem tem conhecimento histórico e compreensão profunda da sociedade não ignora a ojeriza existente a um programa que garante R$ 35,00 para os pobres. O ódio não é ao PT.

Conhecendo um pouco mais dos dados do Brasil se observa que houve dois momentos de crescimento relevante do nível dos salários: no período Getúlio Vargas - João Goulart e nos governos do Partido dos Trabalhadores. Os gráficos abaixo não apenas demonstram esses movimentos como indicam que presentemente o excedente operacional bruto caiu em relação ao produto total em detrimento do incremento nos salários. Interesses poderosos estão sendo feridos. Não apenas segmentos estão perdendo, em termos relativos, como também regiões. Será mesmo preciso pintar de azul em um mapa qual região perde mais com a solidariedade distributiva?






Doutor em economia, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.


domingo, 22 de fevereiro de 2015

De volta às aulas


Vivemos um tempo desafiador. Exigente das melhores posturas e de grande firmeza. A infância e a juventude, que a escola acolhe, construirão sob a orientação dos professores/educadores a sociedade mais justa que desejamos. A reflexão sobre o fazer pedagógico e a função social da escola deve ser um exercício diário. Estamos, constantemente, expostos a notícias que nos apontam um processo de desumanização, eivado de egoísmo, de descaso com o outro e com o que é público. Pouquíssimas são as notícias que nos edificam e alimentam nosso contentamento, nossa esperança, nosso encanto com a vida. O cenário de falência civilizatória interfere, sobretudo, nos estudantes e em suas famílias. Portanto, estar diante deles demanda o enfrentamento desta realidade.

A escola e especialmente a pública, talvez mais do que na sua origem, e bem para além do discurso, tem responsabilidade com a construção dos conceitos de justiça e igualdade. Sem abrir mão do seu caráter científico, a educação escolar precisa investir na formação do ser humano, contrapondo-se às ações embrutecedoras de caráter egoísta. Precisamos então ser super professores? Creio que não. Precisamos ser o que já somos, homens e mulheres que no exercício de sua cidadania, através do diálogo e da reflexão, desempenham atividade profissional como Educadores Libertadores, pois “Educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo”.

No último período de governo investimos na reestruturação física e na modernização tecnológica. Realizamos obras grandes e pequenas em 37 das 40 escolas da rede. Renovamos os PCs das secretarias, entregamos 10 Laboratórios TI contendo 14 PC e 1 servidor cada; 15 Laboratórios Móveis contendo 35 netbooks e armário alimentador e, através do Processo de Participação Popular e Cidadã, recursos para 17 escolas adquirirem lousa digital. Os processos de reestruturação curricular foram acompanhados de formação continuada utilizando-se de convênio e parcerias, como de recursos estaduais e programas federais com o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, o Pacto pela Melhoria do Ensino Médio, ampliação dos Programas Mais Educação e Ensino Médio Inovador. A valorização profissional dos docentes e servidores passou pela preservação das carreiras, promoções, realização de concurso público, reajuste salarial superior à inflação.

Os resultados destes esforços combinados revelou-se na redução da repetência em 3 pontos percentuais tanto no Ensino Médio como no Fundamental. A dinamização do currículo escolar ficou evidente na interação entre os níveis e modalidades de ensino, expressa em diversas mostras, festivais, exposições e eventos esportivos realizados pelas escolas da nossa região.

Quero desejar aos professores e professoras um bom retorno ao trabalho, ao convívio com os colegas e com os estudantes em suas comunidades escolares. (Já estou com saudade). Tenho certeza que as experiências anteriores e as boas práticas realizadas serão o referencial para continuarmos avançando na construção de uma educação de qualidade social.

Bom trabalho!

Profª Neila Gonçalves Silva

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Vamos conhecer mais um pouco sobre nossa história?

Por: Willy Cesar Rodrigues Ferreira


Andam dizendo por aí que "corrupção e propina em obras públicas no Brasil é coisa que surgiu somente nos últimos 50 anos, da ditadura militar para cá...". E que se rouba dinheiro público hoje, como nunca se roubou antes!
Corrupção e obra superfaturada são coisas velhas no Brasil, gente!

Um dos grandes senadores da história da primeira República foi o gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, fundador do Partido Republicano Conservador, de caráter nacional. Atingiu poderes ilimitados na Velha República, (1889-1930), como o de "controlar a Comissão de Verificação de Poderes, cuja função era definir quais candidatos eleitos pelo voto poderiam tomar posse, poder de julgamento da regularidade e licitude das eleições, hoje, da competência da justiça eleitoral. Com este poder em mãos, eliminou no nascedouro diversos mandatos parlamentares.



Pois esse senador, depois do presidente da República Nilo Peçanha, era quem mais tinha influência no Brasil, de 1909 até seu assassinato em 1915. O também gaúcho Mansio de Paiva, que chegou a trabalhar numa padaria aqui em Rio Grande, mas não era nascido aqui, tomou um navio em nosso porto para a capital da República. Ainda deixou-se fotografar aqui, a foto existe. Saiu dizendo: vou ao Rio matar o Pinheiro Machado!

Dito e feito. No dia 8 de setembro de 1915, apunhalou o senador, cuja política ele julgava nefasta. Ao matar sua vítima, sem dar-lhe chance de defesa, não fugiu e calmamente entregou o punhal ensanguentado para as pessoas que estavam com o político. Preso, foi condenado e disse até a morte: "agi por conta própria!".

Agora vem a corrupção e a propina.

O capitalista Percival Farquhar, norte-americano, e o banqueiro Hector Louis Legru, francês, foram os sócios majoritários da Companhia Francesa, que assinou contratos com o governo brasileiro para as obras do porto e barra do Rio Grande, com a construção dos molhes.


A Cia. Francesa foi autorizada a funcionar pelo decreto 7007, de 2 de julho de 1908, quando foram levantados 100 milhões de francos-ouro, ou 19 milhões de dólares, e as obras começaram.


Segundo o biógrafo Charles Gauld, autor do livro "Farquhar - O último titã",

"...Farquhar precisou pagar o preço da interferência da engenharia francesa, além de uma custosa extorsão feita pelos brasileiros.

Estes brasileiros eram políticos vinculados ao senador Pinheiro Machado que, utilizando-se de informações privilegiadas de governo, compraram terras em Rio Grande, essenciais ao canteiro de obras antes, para vendê-las a preço superior, depois. Farquhar apelou em vão ao senador e ao ministro Francisco Sá, da Viação e Obras Públicas, tendo que afinal pagar 900 contos de réis por áreas que mal valem 100 contos.


Gauld acrescentou que "...os políticos construíram instalações portuárias para rivalizar com ele (Farquhar) em Pelotas, à margem da Lagoa dos Patos, a 55 quilômetros de distância de uma das ferrovias que Farquhar controlou entre 1911 e 1915, prejudicando Rio Grande".


E possível retroceder bem mais. Quem leu a biografia do Barão de Mauá, empreiteiro no Segundo Império, do jornalista e biógrafo Jorge Caldeira, sabe bem. Também o livro "Chatô - O rei do Brasil", de Fernando Morais, contém tratativas entre governos x empreiteiras.


Nada de novo no Brasil de todos nós. Penas!
Fontes: pesquisa do autor para o livro "A cidade do Rio Grande", a sair pela editora Top Books, Rio de Janeiro; "Farquhar - O último titã", de Charles Gauld; Wikipedia para a foto do senador; site Papareia para a foto da Ilha do Ladino, com maquinário das obras do aterro para o porto novo, entre 1908-1915.
http://2.bp.blogspot.com/-4knhswmeX-Y/VN9Z-GB_zYI/AAAAAAAABL4/8m5ibX1KoQ8/s1600/Porto%2BIlha%2Bdo%2BLadino.jpg

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Diretor(a) faz a diferença

O Ministério da Educação abriu neste espaço http://pddeinterativo.mec.gov.br/diretorprincipal/ uma Consulta Pública para a criação de um programa de valorização de diretores de escolas públicas de educação básica municipais, estaduais e federais de todo país.

O objetivo é que alunos, pais, professores, gestores, comunidade escolar, academia, estudiosos e sociedade em geral possam apresentar suas experiências sobre o trabalho de diretores escolares e fazer propostas, sugestões e comentários.

Esta consulta ficará aberta até dia 02/03/2015. Imediatamente após o término do prazo, todas as sugestões serão sistematizadas, analisadas e servirão de base para um debate público sobre a criação do programa.
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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Educação de qualidade exige trabalho e custa caro

Inauguração do Palácio das Hortências - 1954

Vários questionamentos me ocorreram ao ler a notícia do pregão, no valor total de 8 mil reais para a compra de lençóis, travesseiros, roupão e toalhas, preparando o chamado "Palácio das Hortências" para uso do Governador e sua família: a imagem de gringo simples e modesto (exibida na campanha eleitoral); a existência desta estrutura (idealizada em 1939); a necessidade de substituir elementos ou remodelar as residencias oficiais, apenas porque mudou o governante (lembro o quarto do neto da governadora). Contudo exitei em me manifestar sobre a compra do sofisticado enxoval.  

Ontem, porém, fiquei sabendo que a Secretaria de Educação cortou 50% das funções gratificadas (FGs e CCs), nas Coordenadorias Regionais. É preciso esclarecer que estas são as funções de menor valor, variando entre R$154,00 a R$860,00. Tem sido utilizadas para contratação de motorista, assistente jurídico, assistente de comunicação, assistente de informática, por exemplo, pois são quadros necessários e inexistentes na educação. O corte reduz a possibilidade de provimento das Coordenadorias e prejudica o serviço. 

Do ponto de vista da economia e austeridade o corte representa impacto financeiro insignificante, principalmente se comparado ao custo de uma estrutura palaciana obsoleta e subutilizada como o "Palácio das Hortências".

Residência oficial do governo gaúcho na Serra fica na cidade de Canela
Foto: Alessandra Rech/Pioneiro / Agência RBS

Erra o novo governo quando corta recusos de serviços essenciais, como a educação. As coordenadorias vem trabalhando no limite. O Coordenador Adjunto já assumia, obrigatoriamente, uma das chefias ( administrativa, financeira, pedagógica ou de recursos humanos). Cada assessoria do núcleo pedagógico cuida de três ou mais pastas, pois o volume de projetos, programas, atendimento às escolas e comunidade vem se ampliando com novos recursos federais. Mais Educação, Ensino Médio Inovador, Brasil Alfabetizado, Brasil Profissionaliza, PróInfância, certificação pelo ENEM, ENCEJA são alguns exemplos. Os programas e demandas da Rede Estadual, embora informatizados na última gestão, exigem acompanhamento e controle.

Considerando que o RS deve investir 35% da receita tributária líquida anual na Educação, este corte é  no mínimo, questionável.

Recomendo:
Os lençois de cetim do Sartori e a crônica de um governo sem rumo.http://polentanews.blogspot.com.br/2015/02/os-lencois-de-cetim-do-sartori-e.html

Origem e a história mais recente do prédio instalado no parque de 9 hectares, em Canela/RS.
http://ngc44-canela.blogspot.com.br/2013/03/palacio-das-hortencias.html#.VNYbE_nF-dc

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

“Informação é a melhor arma para enfrentar o preconceito”

"O Brasil Sem Miséria acabou implementando um padrão de inovação nas políticas sociais brasileiras que coloca um ponto de não retorno". Por Roberta Fofonka/Sul21
“O Brasil Sem Miséria acabou implementando um padrão de inovação nas políticas sociais brasileiras que coloca um ponto de não retorno”. Foto: Roberta Fofonka/Sul21

Por: Marco Weissheimer

Após a disputa eleitoral de 2014, houve um grande crescimento do volume de manifestações preconceituosas contra vários setores da sociedade, em especial negros, pobres e nordestinos. O fenômeno não é novo, mas reapareceu com força no final do ano passado. “O que piorou muito não está relacionado à media da opinião da população. O problema está entre aqueles setores mais reacionários que nutrem uma coisa racista contra os mais pobres. Essas pessoas passaram a ter coragem de expressar seus preconceitos mais abertamente. Saíram do armário”, diz a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.

Em entrevista ao Sul21, Tereza Campello analisa as causas desse tipo de preconceito e defende que a informação é a melhor arma para combatê-lo. “Recentemente tivemos o caso de uma jornalista que disse que os pobres só pensam em procriar. É um negócio inacreditável. Os dados sobre taxa de fecundidade no Brasil, hoje, são completamente conhecidos. A taxa de fecundidade brasileira caiu em todas as classes sociais e caiu muito mais entre os mais pobres, uma queda em torno de 50% acima da média nacional”, exemplifica. A ministra também fala sobre o atual estágio das políticas sociais no Brasil, aponta as prioridades para o próximo período e nega que programas como o Bolsa Família possam sofrer cortes em função de medidas de ajuste fiscal.

Sul21: Em que ponto estamos hoje no processo de construção de políticas sociais iniciado no primeiro governo Lula e que entra agora em seu quarto governo? Quais são os planos do MDS daqui para frente, qual o olhar para o futuro?

Tereza Campello: Estamos em um ponto parecido ao que estávamos quando a presidenta Dilma assumiu. Naquele momento, quando olhávamos para trás víamos oito anos de muito sucesso que tiveram como carro chefe a agenda social e como resultados a inclusão de milhões de brasileiros, a geração de empregos e muitos investimentos na área social. Parecia que não era possível avançar numa agenda que já tinha avançado tanto e que o trabalho a ser realizado era basicamente de manutenção. Aí a presidenta lançou um mega e ousado plano que foi o Brasil Sem Miséria. Acho que as pessoas não têm muita noção da dimensão desse programa. Nós não fomos tão bem tratados pela mídia tradicional, mas nós também somos ruins de comunicação.

Sul21: Qual é essa dimensão do Brasil Sem Miséria que não ficou bem visível para a sociedade?

Tereza Campello: O Brasil Sem Miséria acabou implementando um padrão de inovação nas políticas sociais brasileiras que coloca um ponto de não retorno. Cada vez que se avança muito, se estabelece um novo degrau. Acho que estabelecemos uma verdadeira laje, que nos dá bagagem para dar um salto muito superior. A presidenta fez algumas inflexões nas políticas sociais que são pouco conhecidas.

Sul21: Que inflexões foram essas?

Tereza Campello: Em primeiro lugar, estabeleceu a ideia de que precisamos universalizar a rede de proteção social no Brasil. Isso não estava colocado. Agora chegamos num patamar em que é possível dizer: o Bolsa Família está universalizado. Certamente ainda tem gente que está fora, mas é muito residual. No caso de qualquer política em que falta abranger 150 mil famílias em um universo de 50 milhões, você pode dizer que universalizou. Mas isso não aconteceu por acaso. Foi uma determinação da presidenta Dilma. Ela determinou que fizéssemos uma busca ativa. Se há pessoas fora do sistema, é responsabilidade do Estado ir buscá-las. A responsabilidade é do Brasil Sem Miséria. Isso muda a equação. Essas pessoas são tão pobres, estão tão distantes e foram tão excluídas e abandonadas que não chegarão ao Estado brasileiro. Então, o Estado deve ir buscá-las.

A segunda inflexão, que diz respeito a algo que também não existia nas políticas públicas voltadas à população pobre no Brasil, é estabelecer uma linha abaixo da qual o Estado não aceita mais que as pessoas estejam. Uma coisa é ter um conceito de linha de pobreza para medir e poder fazer quantificações. Outra coisa é ter uma linha e estabelecer que, quem estiver abaixo dessa linha, terá uma complementação de renda garantida pelo Estado. Isso não é apenas um ditame, mas vem acompanhado de uma política pública que vai dar conta do problema. Introduziu uma mudança no Bolsa Família, fazendo com que o benefício variasse para completar a renda de quem estivesse abaixo da linha da pobreza. Essa foi uma mudança muito importante não só no que o Estado brasileiro assumiu para ele, como de referência para outros países. Tem gente que olha e não acredita que estamos fazendo isso. De fato, é uma inovação muito grande.

É óbvio que só foi possível fazer essas inflexões porque havia oito anos de governo Lula atrás. Houve ainda uma terceira grande inflexão que consistiu em dizer: não é só renda; nós queremos que os adultos tenham acesso a oportunidades para melhorar a sua renda. Isso envolve, entre outras coisas, capacitação profissional, acesso a bancos, possibilidade de formalização via carteira assinada, micro ou pequena empresa, cooperativa, economia solidária. Nós fizemos uma ação massiva muito forte de inclusão econômica dessa população. Isso não quer dizer que essas pessoas não trabalhassem. Trabalhavam (e trabalham). O que não tinham era qualificação profissional, tecnologia, informação, acesso a crédito, etc.

A última coisa, falando das inflexões, é que ficou claro para o Estado brasileiro uma coisa que, de certa forma, é óbvia, mas que não estava tão institucionalizado e que o Brasil Sem Miséria transformou em legado. É a noção de que, independente da existência de grandes políticas universais em áreas como saúde e educação, se você não tiver um caminho diferenciado a população pobre não acessa os serviços públicos. Queremos creches para todos, mas se tivermos um caminho tradicional de universalização, os últimos a serem universalizados serão os mais pobres. Queremos a possibilidade de que todos façam tomografia, mas, pelos caminhos tradicionais, os mais pobres serão os últimos a fazer. E assim por diante…

Então, para construir uma agenda de equidade dentro de uma política de universalização é preciso ter um caminho diferente que faça com que os mais pobres sejam incluídos ao mesmo tempo em que os outros, que não sejam os últimos a serem atendidos. É preciso ter um caminho diferenciado para essa faixa da população ter acesso à creche, ao Mais Médicos, a uma escola em tempo integral, ao crédito, etc.

Sul21: E esse caminho diferenciado é também, ele próprio, uma política pública…

Tereza Campello: São várias políticas. O Brasil Sem Miséria construiu esse espaço. Todo mundo sentava à mesa para discutir, por exemplo, como fazer para que a escola em tempo integral chegasse aos mais pobres, como fazer para que as comunidades mais pobres não fossem as últimas a terem acesso a essa escola. A partir daí fomos construídos vários caminhos para atingir esse objetivo.

Sul21: Qual é o universo de pessoas que é objeto da busca ativa hoje? Quantas famílias ainda não tem acesso às políticas públicas do Estado brasileiro?

Tereza Campello: A nossa estimativa é de um universo de 150 mil famílias, algo em torno de 600 mil pessoas. É muita gente ainda. Além disso, temos que fazer um esforço gigantesco para impedir que as pessoas que melhoraram de vida e que foram incluídas voltem à situação anterior de pobreza. Nós não podemos deixar que isso aconteça em hipótese alguma. O que melhor expressa a nossa ambição é aquela frase da presidenta Dilma na posse: nenhum direito a menos, nenhum passo atrás. É uma frase muito forte que afirma que não vamos recuar em direitos.

O Brasil Sem Miséria fechou um ciclo. Não que não existam mais pessoas a serem buscadas, mas cumprimos com todas as metas que havíamos definido para esses últimos quatro anos. Elaboramos um diagnóstico conjunto no governo, organizamos um conjunto de políticas, criamos um sistema de monitoramento, executamos e entregamos tudo, algumas coisas acima das metas fixadas e outras que nem estavam previstas.

Sul21: Como funciona esse processo de busca ativa na prática?

Tereza Campello: Ele ocorre de várias maneiras, pois o Brasil tem regiões e situações muito diferentes. Fizemos, por exemplo, alguns mutirões com barcos em reservas extrativistas na Amazônia, e encontramos pessoas muito pobres que ainda não havíamos localizado e que não tinham nem documentos. Chegamos a encontrar quatro gerações de uma mesma família sem qualquer documento, nem certidão de nascimento. Essa situação melhorou muito, pois o governo fez um esforço gigante, principalmente por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário com a política nacional de documentação de registro civil. Mais de um milhão de documentos foram emitidos com essa política. Nós contratamos a Marinha que acabou fazendo 120 lanchas que foram distribuídas a municípios da região Norte, com o objetivo de localizar essas famílias.

Também realizamos busca ativa em algumas regiões metropolitanas. Em São Paulo, por exemplo, aumentou muito o número de pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família. Quando Fernando Haddad assumiu em São Paulo, essa busca passou a ser política da prefeitura. Aqui no Rio Grande do Sul tínhamos uma baixa cobertura também que melhorou bastante nos últimos anos. Houve mutirões aqui também. Em resumo, há diferentes formas de implementar a busca ativa. Foram sendo construídos desenhos adequados às diferentes realidades encontradas no país.

Sul21: Há um debate agora, no início do segundo governo Dilma, sobre os rumos da política econômica. Fala-se da necessidade de ajustes e de alguns cortes no orçamento da União. Esses ajustes e cortes representam, na sua avaliação, alguma ameaça para a continuidade das políticas sociais?

Tereza Campello: Não há risco de cortes de benefícios ou de serviços sociais. O que todo mundo vai ter que fazer é um esforço para diminuir gastos da máquina. Sempre é possível melhorar aí. Nós temos também mecanismos de controle dentro de nossos programas para localizar pessoas que estejam recebendo benefícios de forma indevida. Isso não tem a ver com o ajuste fiscal, mas sim com nosso esforço permanente para ter uma política cada vez mais eficiente, que chegue aqueles que mais precisam. Podem ocorrer algumas coisas que não têm nada a ver com cortes. Nós fizemos, por exemplo, 750 mil cisternas. Praticamente universalizamos as cisternas na região do Semi Árido. Ainda há cisternas a serem feitas, algo em torno de 50 mil por ano. Nós estávamos fazendo 50 mil a cada dois meses. Então se olharmos para o dinheiro disponível para cisternas, veremos que ele é muito menor do que já foi, mas isso se deve ao sucesso que tivemos no cumprimento de nossas metas.

Foto: Roberta Fofonka/Sul21

Sul21: A senhora tem qualificado, em algumas ocasiões, programas como o Bolsa Família como construtores de políticas e instrumentos de reforma do Estado brasileiro. Poderia detalhar um pouco mais essa qualificação?

Tereza Campello: Hoje temos 14 milhões de famílias dentro de nosso radar. Nós sabemos onde essas famílias estão, criamos uma ferramenta no Brasil que é a nossa tecnologia social mais difundida no mundo. Nós exportamos hoje essa ideia do cadastro único. Temos um espaço de registro que não serve apenas para pagar o Bolsa Família. Ele fornece informações sobre essas famílias e é alimentado por outras fontes também. Nós estamos alimentando o cadastro do Bolsa Família, por exemplo, com dados do Banco Central sobre microcrédito. Nos interessa saber se essas famílias têm acesso a crédito, não com o objetivo de fazer algum tipo de fiscalização, mas para poder criar outras ferramentas que possam auxiliá-las. Esse tipo de cruzamento de dados permite também um olhar mais apurado sobre os territórios onde essas famílias vivem e sobre possíveis oportunidades para melhorar a sua qualidade de vida.
Nós fizemos isso com o Mais Médicos. O novo decreto do programa repete esse mesmo desenho que permite, entre outras coisas, apontar onde há mais problemas para os médicos irem. Pegamos o mapa do Bolsa Família e colocamos sobre o território brasileiro, localizando as regiões onde havia posto de saúde e onde havia maior concentração de população pobre. Isso nos ajudou a definir as regiões onde a necessidade de médicos era mais urgente. Esse é um exemplo do que chamo de papel construtor de outras políticas desempenhado pelo Bolsa Família. Nós precisamos avançar agora em controle social.

Sul21: Por onde passa esse avanço?

Tereza Campello: Passa por várias coisas. Estou pensando muito neste tema agora. Considere o Bolsa Família, por exemplo. É um programa pulverizado, onde as famílias recebem o benefício. Há alguns elementos de transparência que nos ajudam com o controle público. Todos os beneficiários estão com o nome no Portal da Transparência. Quem quiser saber se o vizinho recebe Bolsa Família pode descobrir acessando esse portal. Esse é um passo importante que ajuda o controle social. Nós queremos que cada município tenha seu conselho de assistência social. Temos pressionado para que isso aconteça. Não é uma relação simples, pois temos entidades filantrópicas, gestores públicos, usuários e movimentos sociais com assento nesses conselhos. Mas é só assim que se constrói controle social, com as pessoas e entidades envolvidas sentando em volta de uma mesa e estabelecendo um espaço de diálogo. Um exemplo disso é o que vem acontecendo no Conselho Nacional de Assistência Social e no Conselho Nacional de Saúde onde temos, pela primeira vez, representantes da população de rua. São setores muito organizaram que se mobilizaram, criaram a sua institucionalidade e vem participando e cobrando o setor público.

No Brasil Sem Miséria, nós fizemos seis diálogos com diferentes grupos da sociedade civil. Ouvimos críticas e sugestões antes de concluir o formato final do programa. Nós temos um espaço de diálogo e participação social muito forte, com gente muito qualificada e comprometida com uma agenda de avanço das políticas sociais. Agora, nenhum desses atores representa, de fato, aqueles mais pobres que geralmente não estão sindicalizados ou organizados em torno de alguma entidade. Então, nós temos um desafio colocado para o Estado e para os setores organizados da sociedade que consiste em ouvir a voz dessas pessoas. Hoje, ela começa a aparecer em tudo o que é lugar. Não é mais uma coisa esporádica. Agora, há muitos casos onde as pessoas não têm coragem de falar por conta do preconceito. O nível de preconceito que emergiu na sociedade neste período pós-eleitoral é algo assustador.

Sul21: Qual a sua avaliação sobre a crescente emergência dessas manifestações de preconceito contra setores mais pobres da população, vistas neste período mais recente?

Tereza Campello: Eu acho que piorou. Nós tivemos um período muito ruim do começo do governo Lula até 2005, 2006. Foi algo muito violento. Depois essas manifestações de preconceito diminuíram. Os raivosos pararam de falar e passaram a ficar envergonhados diante dos resultados muito efetivos que obtivemos. Hoje, mesmo com toda a tensão e radicalização verificada na última campanha eleitoral, a maioria da população brasileira é a favor do Bolsa Família. Cerca de 70% da população é favorável ao programa. O que muitas pessoas dizem é que não pode ser só isso, o que nós também achamos. Por isso temos o Pronatec, cursos de formação profissional, programas de crédito. O próprio Bolsa Família é também escola e educação.

O que piorou muito não está relacionado à media da opinião da população. O problema está entre aqueles setores mais reacionários que nutrem uma coisa racista contra os mais pobres. Essas pessoas passaram a ter coragem de expressar seus preconceitos mais abertamente. Saíram do armário. A impressão é que aumentou muito o número dos que são contra programas como o Bolsa Família, quando na verdade o que aumentou foi o número dos que têm coragem de falar esse monte de barbaridade, inclusive coisas que não têm a menor aderência com a realidade.

Recentemente tivemos o caso de uma jornalista que disse que os pobres só pensam em procriar. É um negócio inacreditável. A pessoa parece letrada, embora não deva ter ido muito longe para falar uma coisa dessas. Os dados sobre taxa de fecundidade no Brasil, hoje, são completamente conhecidos. A taxa de fecundidade brasileira caiu em todas as classes sociais e caiu muito mais entre os mais pobres, uma queda em torno de 50% acima da média nacional.

Então, não tem o menor cabimento as pessoas continuarem repetindo esse tipo de coisa. Por que repetem? Fico pensando nisso. Outra barbaridade que segue sendo dita é que a pessoa é pobre porque não trabalha. A pessoa é pobre porque é preguiçosa ou porque é uma perdedora, ou as duas coisas juntas. A verdade é que raríssimas pessoas que não se alimentaram bem na infância, que não tiveram oportunidades de formação e tiveram que começar a trabalhar muito jovens, conseguem posições melhores nas suas áreas. A violência dessas manifestações de preconceito constrange quem é pobre, pois difunde, entre as crianças, essa ideia de que a pessoa é pobre porque não trabalha, porque é preguiçosa.

 Foto: Roberta Fofonka/Sul21

Sul21: Isso envolve, entre outras coisas, uma disputa cultural e simbólica. No início dessa entrevista, você se referiu a problemas de comunicação. Em que medida esses problemas contribuem para o problema do agravamento do preconceito? Caberia ao governo algum tipo de política nesta área?

Tereza Campello: Contra o preconceito eu acho que cabe sim. Acredito que a melhor arma contra o preconceito é a informação. Tem um monte de gente que repete essas barbaridades por que não tem informação. Ouve alguém falar, acha engraçadinho e sai repetindo a bobagem, que nem essa história dos “pobres gostam de procriar”. A pessoa que disse isso talvez não seja permeável a nenhum tipo de informação e de cultura. Mas, certamente, muita gente que leu essa bobagem sai repetindo sem saber o que está falando. Então, precisamos melhorar a nossa capacidade de transmitir informação clara e de qualidade para a população.

Tem gente que acha que, para uma família receber o benefício do Bolsa Família, basta ter as crianças matriculadas na escola. Não é isso. A criança tem que frequentar a escola e conferimos a cada mês se ela tem um mínimo de 80% de frequência. O nível de exigência sobre essa família é forte e positivo para o país, pois visa garantir a permanência dessa criança na escola. Por maiores problemas que tenha a escola, nela a criança tem acesso a um ambiente mais organizado, ao convívio com outras pessoas, tem acesso à informação, e está fora da rua e do trabalho infantil.

Perguntei em um programa de rádio do qual participei recentemente quantas crianças temos na escola hoje no Brasil. Ninguém soube responder. São 17 milhões de crianças. Esse número aumentou muito graças também ao Bolsa Família. Esse é o tipo de informação que eu acho que tocaria muita gente. Por mais conservadora que a pessoa seja, se ela souber que o Bolsa Família tem esse impacto sobre a saúde e a educação das crianças, pode mudar sua visão.

Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/informacao-e-a-melhor-arma-para-enfrentar-o-preconceito-diz-tereza-campello/

Brasil e Suécia.

Recolhi este texto, quase desabafo, do mural da Professora Rose Freitas. Publico para reflexão, embora a imagem fale por si.


"Gostaria de ser destas pessoas inteligentes e articuladas, bem informada e capaz de um texto matador...mas a estas alturas da vida me tornei esta e não outra, pois esta que aqui está, com todos os seus limites, fica impressionada quando lê textos mostrando a maravilha do governo na Suécia, a ausência de corrupção na Finlândia, o quanto a educação é valorizada na Dinamarca e como são pacíficos os canadenses.
Ora, que o meu aluno do 1 ano do ensino médio, ou minha tia de 85 anos, que fez até o 4 ano primário, leiam, se encantem, achem uma maravilha e comparem taco-a-taco com a realidade brasileira...eu entendo. Dureza mesmo é ver gente 'letrada', 'inserida no contexto' e 'politizada'...reproduzindo os tais textos que enaltecem países bacanas sim, é tudo verdade o que diz ali, mas não dizem estes textos das histórias de cada um destes países, não contam que para comparar com o Brasil é preciso saber um tiquinho da nossa história, não dizem que 300 anos de escravidão não saem de nossas vidas por Lei Áurea, que a mentalidade de colonizados inferiores não se desfaz por se proclamar uma república, que o coronelismo não termina com o fim do ciclo do ouro, da cana ou do café, que a pirâmide social perversa que este país viveu na era republicana não se dissipa apenas com o bolsa família ou o fim dos impostos," tudo é muito mais" ...enfim, há pano pra manga, mas nos comparar com suecos, suíços ou finlandeses, é por demais raso."
 Rose Freitas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Sobre a austeridade. Na Europa


O debate sobre a austeridade, tal qual está se dando hoje na Europa, vem do século passado, principalmente após as reformas feitas pela senhora Thatcher, na Inglaterra, na crise de crescimento da economia inglesa dos anos 1980. Aquelas reformas desmantelaram o poder dos sindicatos, vinculados ao trabalhismo inglês, que, até então, eram parceiros do Estado e do grande empresariado industrial, desde os esforços nacionais feitos para a recuperação e modernização industrial do pós-guerra. A recuperação se deu através de formas contratuais específicas, pelas quais ali se desenvolveu o contrato socialdemocrata europeu.
Hoje, com diferentes graus, vários países da União Europeia têm sido obrigados pelo Banco Central Europeu - leia-se  governo alemão  e Banco  Central  Alemão -  a adotar “políticas  de austeridade”, em função da brutal dívida pública destes países e da sua presumida incapacidade de  saldá-las. Argumenta-se, como diz o professor Vicenç Navarro – emérito professor em universidades europeias e americanas, ex-assessor de Hillary Clinton, como coordenador do grupo da reforma do sistema de saúde americano — “que a redução do déficit público é a chave para recuperar a confiança dos mercados financeiros (...) com mais e mais cortes nas transferências e nos serviços públicos do Estado”.
Estas políticas, criticadas pelo professor Navarro e milhares de cientistas sociais, políticos de diversas ideologias e origens, acadêmicos ou não, economistas e gestores públicos em todo o mundo, são apresentadas como se fossem políticas universais, “neutras”, verdadeira razão de estado e espada luminosa dos que defendem o interesse público. Em regra, são as preferidas por nove entre 10 dos comentaristas econômicos da grande mídia, que não poupam críticas ao Estado “gastador”, à falta de sabedoria dos agentes públicos que defendem outras saídas. Mas o fazem sem abordar o debate de fundo: quais os resultados destas políticas? A quem ela beneficia efetivamente? De quem ela exige sacrifícios? E mais: quais as políticas de outra natureza que se opõem à dita “austeridade”?
O presidente Reagan, nos anos 1980, confrontado com a crise de eficiência e, consequentemente, de acumulação das grandes empresas americanas, aplicou a receita sem vacilação: redução do valor real dos salários, aumento do desemprego para aumentar a competividade, redução das despesas de prestações sociais, redução dos impostos para as classes superiores e, no plano político mais amplo (para unir o país contra as ameaças de “fora”), a retomada agressiva da “guerra fria”, com o deslocamento de vultosos financiamentos para a bomba de nêutrons, escudo antimísseis, “guerra nas estrelas”.
Compare-se, nos dias de hoje, como a União Europeia e os EUA - que chegou a “estatizar” indústrias automobilísticas durante a crise do “subprime” -  enfrentam crises semelhantes, pela palavra dos seus mais autorizados representantes. No verão europeu de 2012, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, afirmava que o “Banco Central Europeu fará tudo que for necessário para sustentar o euro, e, acreditem, isso será suficiente”. Em março de 2012, o secretário do Tesouro americano, Timoty Geithner, assinalava que é preciso calibrar com cuidado a mistura de “apoio financeiro e o ritmo de consolidação fiscal”, fazendo coro com o presidente da Reserva Federal dos EUA, Ben Bernanke, que pedia mais estímulos contra o desemprego.  O presidente da Reserva Federal, diferentemente de Draghi, deixava claro que se a situação piorasse nos EUA, iria atuar para “apoiar o crescimento”.
Estas palavras são ditas, já dentro de uma situação “madura” de crise, que vem se arrastando há vários anos e, sobretudo, demonstram que as ditas políticas de austeridade não são aplicadas numa mesma medida. E que seu entendimento é diferenciado, mesmo nos países avançados, nos quais classes trabalhadoras e os setores médios ainda “têm o que perder”, sem cair na miséria absoluta. O empobrecimento, a olhos vistos, de uma grande parte dos assalariados que era de renda baixa é o sucedâneo de uma situação na Europa, particularmente na Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, França - entre outros países - que já têm bolsões de miséria dignos das regiões mais pobres da América Latina.
No terceiro trimestre de 2012, ou seja, no momento áureo de aplicação das políticas de austeridade, a dívida pública em relação ao PIB, na zona do euro, era de 90%; comparada com o terceiro trimestre de 2011, ela subiu aproximadamente 5%. Neste trimestre, que foi considerado, financeiramente, o período de mais extrema gravidade para a estabilidade macrofinanceira da zona do euro, ela alcançara 86,6% em relação ao PIB. Fracasso total das políticas de austeridade, com a manutenção do desemprego entre os jovens, na Espanha, de mais de 40% e mais de 23% da força de trabalho total, com redução do poder aquisitivo dos trabalhadores, assalariados de todos os setores e, ainda, crise devastadora nos pequenos e médios negócios industriais e de serviços.
A elite financeira americana e as minorias mais ricas em geral, principalmente ligadas aos setores improdutivos da economia, a elite financeira e seus “managers” dos serviços correlatos (1% da população), segundo o professor Navarro, nos últimos cinco anos da crise, acumularam mais de US$ 2 trilhões. Enquanto isso, aumentaram as diferenças sociais nos EUA de modo alarmante, e a Europa inteira decresceu: Espanha menos 1,5%; Grécia menos 5,2%; Itália menos 2,3%; e Portugal, menos 3%.
Não é preciso muito esforço para compreender que as políticas de austeridade têm beneficiários diretos e sacrifícios ampliados em toda a sociedade. Mas ela precisa, ainda, reduzir a margem de risco dos “financiadores” aparentes da recuperação, que supostamente são as agências financeiras. Mormente aquelas que dão as “notas”, os “graus” de investimento, para os países endividados e, ao mesmo tempo, são as que manejam o mercado  financeiro e alimentam, politicamente, o circuito informativo global, destinado a convencer a  todos que a política deve ser substituída por medidas supostamente técnicas, de necessidade indiscutível.  
Os recursos da recuperação, contudo, vêm do Estado e são dinheiro público. Ou seja, os recursos públicos, para a recuperação da economia, não são entregues pelos governos às empresas em crise - de qualquer tamanho - mas aos agentes financeiros privados, que manipulam a taxa de juros e a acumulação sem trabalho. A diminuição do risco especulativo, necessária, aliás, para pacificar o mercado e aliviar tensões, exige que haja plena previsibilidade para o pagamento dos países credores, pelos endividados.
Daí um segundo passo: a redução das transferências públicas (diminuição das pensões, redução da compra de serviços e calotes nas pequenas e médias empresas, diminuição real e irrestrita dos salários dos servidores públicos, redução dos programas de transferência de renda) e dos serviços públicos essenciais (saúde, educação); e depois, ainda, um terceiro passo, com sucesso parcial na Inglaterra: a privatização de estradas (de outras empresas  prestadoras de serviços públicos que são capazes de dar lucro sem competição e sem risco, para os investidores privados),  porque  ninguém  deixa  de  tomar água,  por exemplo, ou levar um  filho  ao  hospital, para ser operado de uma apendicite.
Austeridade reproduz mais austeridade, mais desigualdade, mais concentração de renda, mais pobreza e redução das funções públicas do Estado. Austeridade fulmina a política e “fascistiza” os conflitos, porque a violência da concentração de renda e de poder, que ela causa, desacredita a democracia e a política, desacredita as eleições e os governos. Me digam quais os sacrifícios que os 1% dos mais ricos de um país fazem, para tirar seus respectivos países das suas crises, que eu mudo de opinião. Por enquanto eu fico com esta.

Tarso Genro
Ex-governador do Estado
Publicado na edição impressa do Jornal do Comércio de 19/01/2015.