sábado, 14 de fevereiro de 2015

Vamos conhecer mais um pouco sobre nossa história?

Por: Willy Cesar Rodrigues Ferreira


Andam dizendo por aí que "corrupção e propina em obras públicas no Brasil é coisa que surgiu somente nos últimos 50 anos, da ditadura militar para cá...". E que se rouba dinheiro público hoje, como nunca se roubou antes!
Corrupção e obra superfaturada são coisas velhas no Brasil, gente!

Um dos grandes senadores da história da primeira República foi o gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, fundador do Partido Republicano Conservador, de caráter nacional. Atingiu poderes ilimitados na Velha República, (1889-1930), como o de "controlar a Comissão de Verificação de Poderes, cuja função era definir quais candidatos eleitos pelo voto poderiam tomar posse, poder de julgamento da regularidade e licitude das eleições, hoje, da competência da justiça eleitoral. Com este poder em mãos, eliminou no nascedouro diversos mandatos parlamentares.



Pois esse senador, depois do presidente da República Nilo Peçanha, era quem mais tinha influência no Brasil, de 1909 até seu assassinato em 1915. O também gaúcho Mansio de Paiva, que chegou a trabalhar numa padaria aqui em Rio Grande, mas não era nascido aqui, tomou um navio em nosso porto para a capital da República. Ainda deixou-se fotografar aqui, a foto existe. Saiu dizendo: vou ao Rio matar o Pinheiro Machado!

Dito e feito. No dia 8 de setembro de 1915, apunhalou o senador, cuja política ele julgava nefasta. Ao matar sua vítima, sem dar-lhe chance de defesa, não fugiu e calmamente entregou o punhal ensanguentado para as pessoas que estavam com o político. Preso, foi condenado e disse até a morte: "agi por conta própria!".

Agora vem a corrupção e a propina.

O capitalista Percival Farquhar, norte-americano, e o banqueiro Hector Louis Legru, francês, foram os sócios majoritários da Companhia Francesa, que assinou contratos com o governo brasileiro para as obras do porto e barra do Rio Grande, com a construção dos molhes.


A Cia. Francesa foi autorizada a funcionar pelo decreto 7007, de 2 de julho de 1908, quando foram levantados 100 milhões de francos-ouro, ou 19 milhões de dólares, e as obras começaram.


Segundo o biógrafo Charles Gauld, autor do livro "Farquhar - O último titã",

"...Farquhar precisou pagar o preço da interferência da engenharia francesa, além de uma custosa extorsão feita pelos brasileiros.

Estes brasileiros eram políticos vinculados ao senador Pinheiro Machado que, utilizando-se de informações privilegiadas de governo, compraram terras em Rio Grande, essenciais ao canteiro de obras antes, para vendê-las a preço superior, depois. Farquhar apelou em vão ao senador e ao ministro Francisco Sá, da Viação e Obras Públicas, tendo que afinal pagar 900 contos de réis por áreas que mal valem 100 contos.


Gauld acrescentou que "...os políticos construíram instalações portuárias para rivalizar com ele (Farquhar) em Pelotas, à margem da Lagoa dos Patos, a 55 quilômetros de distância de uma das ferrovias que Farquhar controlou entre 1911 e 1915, prejudicando Rio Grande".


E possível retroceder bem mais. Quem leu a biografia do Barão de Mauá, empreiteiro no Segundo Império, do jornalista e biógrafo Jorge Caldeira, sabe bem. Também o livro "Chatô - O rei do Brasil", de Fernando Morais, contém tratativas entre governos x empreiteiras.


Nada de novo no Brasil de todos nós. Penas!
Fontes: pesquisa do autor para o livro "A cidade do Rio Grande", a sair pela editora Top Books, Rio de Janeiro; "Farquhar - O último titã", de Charles Gauld; Wikipedia para a foto do senador; site Papareia para a foto da Ilha do Ladino, com maquinário das obras do aterro para o porto novo, entre 1908-1915.
http://2.bp.blogspot.com/-4knhswmeX-Y/VN9Z-GB_zYI/AAAAAAAABL4/8m5ibX1KoQ8/s1600/Porto%2BIlha%2Bdo%2BLadino.jpg

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