quarta-feira, 25 de junho de 2014

Atividades integradas promovem a interdisciplinaridade

Duas paixões mudaram a rotina da professora de matemática de 30 anos, Daiane de Jesus Vieira. A sala de aula e a fotografia viraram companheiras a partir de ideias e oportunidades que ela viu aparecerem pelo caminho. Provando que o ensino pode acontecer de maneiras diferentes e que nem sempre é a teoria quem vence, ela ensina aos seus alunos aquilo que sabe sobre a fotografia. Voluntária no projeto e inovando no ensino público, ela espera que o futuro consolide os seus sonhos, sem nunca esquecer que é a atual profissão que a levou em muitos lugares.

"Estou unindo o útil ao agradável." Daiane tem a sorte de estar lidando com dois dos seus grandes interesses. Desde os 22 anos, com o nascimento de sua filha, ela começou a fotografar ainda com câmeras analógicas e descobriu que tinha talento. "Alguns amigos foram elogiando e percebi que gostava mesmo", conta ela, que diz ser autodidata e ter aprendido sozinha sobre a arte da fotografia. Desde 2011 a professora dá aulas de matemática na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Carlos Loréa Pinto, mas somente este ano surgiu uma oportunidade de levar conhecimento além dos números para os alunos. Como a escola de quase 1,4 mil estudantes é beneficiada pelo Programa Ensino Médio Inovador (Proemi), que visa desenvolver propostas curriculares inovadoras, as oficinas de fotografia acabaram virando realidade. Com apoio da escola e do Proemi, Daiane ofereceu, então, o seu tempo e a sua habilidade com fotos para os alunos. “A escola me abriu completamente as portas”, exclama. Para ela, voluntária do programa, o pagamento é a satisfação interior.

Daiane é uma daquelas pessoas que inspiram e foi assim que inspirou os seus alunos da oficina de fotografia. Iniciada em 29 de abril, deve encerrar na próxima semana com cerca de 15 alunos assíduos nas aulas. Mesmo sem verba para compras câmeras para cada um, a escola prestou todo auxílio à professora, mostrando que são os esforços conjuntos que formam alunos completos para o futuro. Agora, chegando ao fim, a perspectiva é de que no segundo semestre as oficinas abram novas turmas ou deem continuidade com os alunos atuais em aulas com conteúdos avançados.

Teoria e prática
Manusear a câmera, conhecer funções como "velocidade" e "obturador", ajustar o foco, errar, acertar, enxergar a foto antes do clique. Quem olha de longe diz logo que "é só colocar a máquina no automático". Para os alunos de Daiane o aprendizado vem aos poucos e de forma manual. Paciente, ela explica a eles cada detalhe, incluindo cores, luzes, diferentes cenários e apresenta também fotógrafos que construíram seu espaço no meio. 

"A fotografia é interdisciplinar", afirma ela. Envolvendo artes, física, química, história e até a própria matemática, as aulas evoluíram para a fase prática. Ao todo, foram seis módulos de aprendizado, tudo registrado e organizado por Daiane. A coordenadora do Proemi na escola, Rosemary Bianchi, confirma que atividades como essa, realizadas em um turno inverso do horário de aula dos estudantes, vêm dando certo. “Os alunos gostam de estar na escola, mas não na sala de aula, e com certeza oficinas assim ajudam na concentração e vontade deles”, comenta.

A partir das aulas práticas os alunos começaram a vivenciar aquilo que a teoria tanto lhes falava. Daiane observa, orienta, orgulha-se. “Dá para perceber que alguns têm talento para seguir adiante”, revela. Para ela, o mais importante na primeira aula do curso foi questionar os alunos quanto ao interesse deles na fotografia. “Uns quatro responderam que desejam trabalhar nesse ramo, fiquei bem feliz”, diz. A última aula do curso será especial. Com a presença de três modelos voluntárias, os alunos fotografarão em um cenário com belezas naturais e poderão colocar toda sua criatividade em ação. Recentemente, um dos trabalhos propostos por Daiane foi o de retratar o ambiente escolar. “Era uma espécie de fotodocumentário com a própria visão deles da nossa escola”, explica.

Em uma das aulas os alunos receberam a visita do fotógrafo rio-grandino Aldivo Mendes. A intenção da professora era oferecer o contato com alguém que, além de amar o que faz, é da cidade, assim como eles. “Foi muito bom, porque mostrou para eles que fotografar requer um olhar diferente e muita vontade para aprender.”

Futuro em aberto
Aquilo começou como uma brincadeira tirando fotos da filha recém-nascida, virou um trabalho de verdade. O que Daiane talvez não esperava é que a fotografia pudesse também ganhar um espaço tão grande entre os seus planos futuros. Mesmo trabalhando como professora, ela tem em sua casa o que chama de “um estúdio improvisado” e já trabalha com alguns eventos. Grata pela profissão de professora e todas as experiências que pôde viver até hoje dentro das salas de aula, ela confessa uma ponta de decepção. “A falta de motivação dos alunos é frustrante”, desabafa. Embora fale com certeza do gosto por dar aulas, ela admite que pensa, sim, em um dia conseguir trabalhar somente com a fotografia. “É um sonho, não pretendo desistir.”

Fonte: Matéria publicada no Diário Popular de 22 de junho de 2014
http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=ODUwNDU%3D&id_area=OA%3D%3D

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